Esta
história, não fui eu quem inventou. Faço aqui apenas uma reprodução do texto,
como uma homenagem a um perfil de mãe que quase não se encontra mais. [Ou ainda
se encontra e os filhos é que mudaram?]
Autor
original desconhecido (pelo menos por mim)
Carlinhos
sempre pedia à mãe um dinheiro para ir nos domingos ao Cine Itapagipe (sala de
cinema que havia no largo da Madragoa, em Salvador, até 1965), mas a mãe sempre
negava dizendo que o dinheiro que recebia com a roupa de ganho que lavava não
dava para isso.
Certo
domingo, Carlinhos lhe comunicou todo alegre:
-
Mainha, hoje eu vou para a matinée!
A
mãe estranhou:
-
Como, meu filho? Com que dinheiro?
-
Bem, eu resolvi que todo dinheiro que a senhora tem me dado durante a semana
para eu merendar na escola, eu vou guardar para ir ao cinema no domingo. O da
semana passada eu já guardei para hoje.
A
mãe ficou pensativa. E Carlinhos foi para o cinema.
Na
segunda-feira seguinte, ao receber o costumeiro trocado e se despedir para ir à
escola, Carlinhos ouviu da mãe:
- Meu filho, use esse dinheiro aí para
merendar na hora do recreio. Deixe estar que todo domingo eu lhe darei a
quantia separada para você ir ao cinema.
Carlinhos
ficou contente.
E
a mãe cumpriu a promessa, durante muito tempo.
Muitos anos depois, Carlinhos, já adulto,
formado, trabalhando, resolveu tirar uma antiga dúvida com a velha mãe:
-
Mamãe, quando eu era criança, a senhora, durante muito tempo, disse que não
podia me dar dinheiro para eu ir à matinée dos domingos, porque sua renda não
permitia. Mas depois que eu lhe disse que iria começar a usar o dinheiro da
merenda para realizar aquele meu desejo, a senhora começou a me dar o dinheiro
do cinema, para que eu não deixasse de merendar, lembra disso?
-
Sim... Eu me alembro, meu filho....
-
Mas até hoje eu não entendi uma coisa: já que antes a senhora me dizia que não
tinha dinheiro para eu ir ao cinema, então de onde a senhora tirou recursos
para atender àquele meu capricho dos domingos?
A
mãe respondeu ternamente:
-
Pois é, meu filho. Foi a partir daquele dia que eu passei a ir e a voltar do
trabalho andando.
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Muitos
que já leram essa história acham impossível uma mãe tão dedicada assim, a ponto
de sofrer por amor ao filho. Não entendem que cada tempo tem seus costumes e
seus conceitos. O que hoje é absurdo de comportamento, em épocas pretéritas era
tido como normal, e vice-versa.
Essa
é uma mãe clássica, de antes de 1965. Era daquela mãe que padecia no paraíso.
Hoje é politicamente incorreto um filho explorar sua mãe assim, mas naquele
tempo a consciência filial não era tão desperta... A "consciência de
classe materna"(!), também não. Fazer o quê, nê? rsrsrsrs! Mas no geral,
muitas mães ainda hoje fazem sacrifícios muito maiores do que aquilo que os
filhos reconhecem, ainda que no anonimato.
Uma
questão é: Ela sofria, para que o filho fosse feliz (já que a felicidade está
no supérfluo)? Creio que se ela se sacrificava por amor ao filho, ela não
sofria. Ou, pelo menos, ela era infeliz e não sabia! rsrsrsrs! Ela tinha metas.
Tinha propósitos. Em verdade, ela achava que era feliz, por ver o filho feliz.
Coisas de mãe pobre abnegada, que quer dar ao filho um futuro melhor do que o
passado de escravidão e de exclusão em que ela e seus antepassados viveram. É
quase um sacrifício instintivo, ainda que meio insano, meio irracional.
Ademais,
achar-se feliz não é mesmo ser feliz? Existe felicidade falsa? Felicidade
ilusória?
O
coração materno tem razões que a própria razão masculina ou filial desconhece.
Isso é talvez uma infilosofia maternalista que só quem é mãe reconhece.
Bem,
tudo isso aqui é uma mera opinião. Cada família é uma família. Cada caso é um
caso. Cada história é uma história. Faço aqui apenas uma análise do
comportamento daquela personagem "boba", que talvez tenha sido apenas
uma mera ficção do desconhecido autor ou do "remaker". Quem escreveu
mesmo esse texto? Uma mãe orgulhosa? Um filho arrependido? Terá sido baseado em
fatos reais? Ou terá sido mera ficção? Sei lá! Tem possibilidades reais, pelo
menos considerando os tempos mais recuados.
O certo é que eu sempre admirei as mães
heroínas. Muito me inspirou foi o exemplo de dona Quênia, viúva, moradora dos
antigos Alagados. Para sair do aperto extremo, juntou os quatro filhos e
inaugurou, dentro da própria palafita, um verdadeiro shopping center. De longe,
na ponte sobre a maré, já dava para ver a placa, escrita a carvão, anunciando
os serviços: “alisa-se cabelo, faz-se manicure e pedicure, aplica-se injeção,
tira-se pressão, dá-se banca e vende-se abafabanca”. Não faltava cliente. Foi o
jeito encontrado de fazer seus malabarismos, dar seus jeitinhos honestos, como
todo bom brasileiro profissional da esperança.
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