domingo, 14 de maio de 2017

AMOR DE MÃE


Esta história, não fui eu quem inventou. Faço aqui apenas uma reprodução do texto, como uma homenagem a um perfil de mãe que quase não se encontra mais. [Ou ainda se encontra e os filhos é que mudaram?]

Autor original desconhecido (pelo menos por mim)
  
Carlinhos sempre pedia à mãe um dinheiro para ir nos domingos ao Cine Itapagipe (sala de cinema que havia no largo da Madragoa, em Salvador, até 1965), mas a mãe sempre negava dizendo que o dinheiro que recebia com a roupa de ganho que lavava não dava para isso.
Certo domingo, Carlinhos lhe comunicou todo alegre:
- Mainha, hoje eu vou para a matinée!
A mãe estranhou:
- Como, meu filho? Com que dinheiro?
- Bem, eu resolvi que todo dinheiro que a senhora tem me dado durante a semana para eu merendar na escola, eu vou guardar para ir ao cinema no domingo. O da semana passada eu já guardei para hoje.
A mãe ficou pensativa. E Carlinhos foi para o cinema.
Na segunda-feira seguinte, ao receber o costumeiro trocado e se despedir para ir à escola, Carlinhos ouviu da mãe:
 - Meu filho, use esse dinheiro aí para merendar na hora do recreio. Deixe estar que todo domingo eu lhe darei a quantia separada para você ir ao cinema.
Carlinhos ficou contente.
E a mãe cumpriu a promessa, durante muito tempo.
 Muitos anos depois, Carlinhos, já adulto, formado, trabalhando, resolveu tirar uma antiga dúvida com a velha mãe:
- Mamãe, quando eu era criança, a senhora, durante muito tempo, disse que não podia me dar dinheiro para eu ir à matinée dos domingos, porque sua renda não permitia. Mas depois que eu lhe disse que iria começar a usar o dinheiro da merenda para realizar aquele meu desejo, a senhora começou a me dar o dinheiro do cinema, para que eu não deixasse de merendar, lembra disso?
- Sim... Eu me alembro, meu filho....
- Mas até hoje eu não entendi uma coisa: já que antes a senhora me dizia que não tinha dinheiro para eu ir ao cinema, então de onde a senhora tirou recursos para atender àquele meu capricho dos domingos?
A mãe respondeu ternamente:
- Pois é, meu filho. Foi a partir daquele dia que eu passei a ir e a voltar do trabalho andando.

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Muitos que já leram essa história acham impossível uma mãe tão dedicada assim, a ponto de sofrer por amor ao filho. Não entendem que cada tempo tem seus costumes e seus conceitos. O que hoje é absurdo de comportamento, em épocas pretéritas era tido como normal, e vice-versa.

Essa é uma mãe clássica, de antes de 1965. Era daquela mãe que padecia no paraíso. Hoje é politicamente incorreto um filho explorar sua mãe assim, mas naquele tempo a consciência filial não era tão desperta... A "consciência de classe materna"(!), também não. Fazer o quê, nê? rsrsrsrs! Mas no geral, muitas mães ainda hoje fazem sacrifícios muito maiores do que aquilo que os filhos reconhecem, ainda que no anonimato.
Uma questão é: Ela sofria, para que o filho fosse feliz (já que a felicidade está no supérfluo)? Creio que se ela se sacrificava por amor ao filho, ela não sofria. Ou, pelo menos, ela era infeliz e não sabia! rsrsrsrs! Ela tinha metas. Tinha propósitos. Em verdade, ela achava que era feliz, por ver o filho feliz. Coisas de mãe pobre abnegada, que quer dar ao filho um futuro melhor do que o passado de escravidão e de exclusão em que ela e seus antepassados viveram. É quase um sacrifício instintivo, ainda que meio insano, meio irracional.
Ademais, achar-se feliz não é mesmo ser feliz? Existe felicidade falsa? Felicidade ilusória?

O coração materno tem razões que a própria razão masculina ou filial desconhece. Isso é talvez uma infilosofia maternalista que só quem é mãe reconhece.
Bem, tudo isso aqui é uma mera opinião. Cada família é uma família. Cada caso é um caso. Cada história é uma história. Faço aqui apenas uma análise do comportamento daquela personagem "boba", que talvez tenha sido apenas uma mera ficção do desconhecido autor ou do "remaker". Quem escreveu mesmo esse texto? Uma mãe orgulhosa? Um filho arrependido? Terá sido baseado em fatos reais? Ou terá sido mera ficção? Sei lá! Tem possibilidades reais, pelo menos considerando os tempos mais recuados.



 O certo é que eu sempre admirei as mães heroínas. Muito me inspirou foi o exemplo de dona Quênia, viúva, moradora dos antigos Alagados. Para sair do aperto extremo, juntou os quatro filhos e inaugurou, dentro da própria palafita, um verdadeiro shopping center. De longe, na ponte sobre a maré, já dava para ver a placa, escrita a carvão, anunciando os serviços: “alisa-se cabelo, faz-se manicure e pedicure, aplica-se injeção, tira-se pressão, dá-se banca e vende-se abafabanca”. Não faltava cliente. Foi o jeito encontrado de fazer seus malabarismos, dar seus jeitinhos honestos, como todo bom brasileiro profissional da esperança.  


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